terça-feira, 19 de junho de 2007

Aboio




Os aboios são cantos sem acompanhamento, entoados pelos vaqueiros para ajudar a conduzir o gado. Não foram poucos aqueles, que como eu, não tenham se maravilhado por estes cantares.


Como exemplo, posso citar as palavras do nosso grande romancista José de Alencar: "O aboiar de nossos vaqueiros, ária tocante e maviosa com que eles, ao por do sol, tangem o gado para o curral, são os nossos ranz sertanejos...Quem tirasse por solfa estes improvisos musicais, soltos à brisa vespertina, houvesse composto o mais sublime dos hinos à saudade".

Muitos compositores, ao longo de nossa história musical seguiram o conselho do poeta e inspirados pelos aboiares compuseram seus hinos à saudade.

Minha primeira audição de um aboio não foi na paisagem natural que lhe serve de palco, que são as pastagens. Não. Minha primeira escuta se deu ao ouvir o disco "Amazonas" do grande percussionista Naná Vasconcelos. Na faixa "Coisas do Norte", ele entoa vários destes cantos sem acompanhamento. Cantos dolentes, carregados de melismas.Melodias suspensas no ar. Impossível não comparar com o Gregoriano em sua solenidade pastoral.

Normalmente, os versos dos aboios tratam de temas relacionados ao cotidiano dos vaqueiros. Assim como nestes versos: "Não me chamo boiadeiro/boiadeiro é o meu patrão/sou apenas um vaqueiro/essa é minha profissão". Ou ainda: "Toda vez que o galo canta/eu também quero cantar/galo canta de alegria/canto para não chorar".

Anos se passaram, e permaneceu acesa dentro de mim, a forte impressão que me causaram estes cantos.Em 2002, na ocasião de compor a trilha sonora do CD-ROM "IQM verde", onde um dos temas eram as "pastagens", me veio de imediato a inspiração de compor algo em torno de um aboio.Embora tenha surgido como uma peça instrumental, me ocorreram os seguintes sobre a melodia: " De janeiro à janeiro/eu e minha solidão/revirando mundo inteiro/nas Veredas do Sertão".

Através do solo de violino introdutório busquei evocar a herança ibérico - moura que se perde no ar destas imensas pastagens. Depois, a música segue devagar e sempre como o andar lento e comtemplativo do gado nas pastagens, representado pelo arpejo obstinado do piano.

Mais tarde, em 2005, esta música também serviu de trilha ao audiovisual "Pequenos gestos" da fotógrafa Debora 70.



Leo Rugero - Violino, piano, sanfona de 8 baixos, baixo elétrico e efeitos de percussão;
Gravado em Janeiro de 2007


Ouça também:


Nivaldo Maciel e Gilberto Câmara - vozes

Gravação de um aboio tradicional extraída do dico " Música Popular do Norte de Minas Gerais" - Discos Marcus Pereira - 1979.


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