
em Caravelas - Bahia
Há quem acredite, como a musicóloga Hermelinda Azevedo Paes, que "as influências ibérica e africana foram, incontestavelmente, as mais importantes no processo de formação da nossa música".
Discussões à parte, muitos estudiosos da formação musical brasileira, atribuem que resquícios da cultura árabe estariam sempre presentes no cerne da cultura portuguesa, devido a longa ocupação dos árabes em território português e espanhol.
Entre os estudiosos, aquele que foi mais longe nessa perspectiva foi Luis Soler. Autor de "As raízes árabes na tradição poético-musical do sertão nordestino", livro no qual o autor reinvindica ao árabe o posto hierárquico dentro das genealogias e ascendências que habitariam o solo nordestino dos primeiros tempos, e do qual também fariam parte os jesuítas, trovadores...e dos bárbaros colonizadores pouco se fala.
Há um trecho de seu livro em que Soler traça um paralelo entre tradições mouras e sertanejas: "o lenço cobrindo a boca e o pescoço das mulheres(N.A. Nunca vi uma mulher nordestina trajando uma burka...), a instituição da cabra na vida caseira, o amor ao cavalo - um verdadeiro culto entre os sertanejos - muitos tipos de comida:as coalhadas e os requeijões sertanejos, o cuzcuz - o alcuzcuz dos árabes -, etc."
Mais adiante, o autor enumera o canto mais falado do que cantado dos cantadores nordestinos como uma reminiscência do "lingui-lingui" árabe, o lenga-lenga nordestino.
O celebrado Ariano Suassuna é outro autor que vai chamar a atenção da influência árabe, elemento que irá nortear parte da estética Armorial. Nas palavras de Suassuna, "(...) há muito no brasileiro que não é europeu, nem indígena, nem contato direto com a África Negra através dos escravos.Que explicam o muito de mouro que persistiu na vida intíma do brasileiro através dos tempos coloniais".
Entre o final dos anos 90 e começo de 2000, inspirado por estas idéias acerca da influência ibérica nas raízes culturais brasileiras, comecei a garimpar tudo o que tivesse a influência árabe em nossa cultura. De fato encontrei poucos elementos que realmente fossem "árabes". E ainda assim, mais como algo subjacente, que em poucos momentos parecia estar em primeiro plano.
Em meio a estas pesquisas, foram surgindo algumas composições, onde eu exagerava esta influência através do uso de modalismo árabe ou chamando a atenção para detalhes de ritmo. Entre as composições, eu destacaria "Miragem" e "Vozes do deserto", que como os próprios títulos sugerem, possuem muito desta influência. Mais tarde, a poeira abaixou, outras influências se tornaram mais fortes em minha formação musical, mas posso considerar que este aprofundamento foi significativo e gerou alguns bons frutos.
Aqui, "Miragem" e "Vozes do deserto" aparecem interpretadas pelo saudoso Varal de Corda, em gravação realizada em 2001.
Miragem (Leo Rugero)
Leo Rugero - violão e violino
Andrea Spada - baixo acústico
Heber Caperê - percussão
Vozes do deserto (Leo Rugero)
Leo Rugero - violino
Andrea Spada - contrabaixo
Heber Caperê - berimbau-de-boca e percussão
Para quem quiser se aprofundar neste assunto:
As estruturas modais na música folclórica brasileira - Ermelinda A.Paz
As raízes árabes na música folclórica do Brasil -Luis Soler
Um comentário:
Léo, que fantástica e feliz postagem sua, adorei também as informações sobre nome dos livros.
Realmente a influência árabe na nossa cultura foi enorme. Aqui na Bahia trabalho com um músico chamado Ives, ele faz este estudo e se algum dia puder conferir algum trabalho dele...
O site do mesmo entra no ar em breve, mas posso desde já te passar o link: www.ivesahar.com.br
O contato dele é: contato@ivesahar.com.br
Obrigada por dividir conosco estas informações.
Mell Borba
mell.borba@gmail.com
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